domingo, 10 de março de 2013

Algo sobre a vida

Mar Bravio, por Carol Kossak. Óleo sobre tela.
 
Vi que a vida é um navio
De velas brancas bailando
Perdido em um mar bravio
Entre tormentas vingando
Em meio a dor e ao frio
Medo, suor e calafrio
Uma tenra ilha buscando

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Cabocla e o Vaqueiro

Esta poesia fiz um dia desses. Batizei de "A Cabocla e o Vaqueiro", inspirada em um sorriso. E que sorriso!

Era uma cacimba de ternura, no deserto dos desamores
Caboclinha amorenada, por quatro anjos trançada, das coisa mais bela e pura
De um sorriso abrilhantado, que não se mede nem explica
Só de olhar a gente fica que num atina mais pra nada

Moreninha acaboclada
Carregada de sabores
Eu irei aonde tu fores
Se me deixares prova-la

É só tu dar um riso fácil
Uma bulida no cabelo
Que meu coração bate alto
Sem compasso, sem receio

Mas acaso eu não puder
No teu céu me aventurar
Visto o gibão, junto a bisaca
E vou viver a cavalgar

Num engano bem enganado
De que pudesse esquecer
O cheiro do teu cabelo
Tocado no amanhecer

E os caminhos que eu percorresse
Jurei que fariam pensar
N'outras coisas, novos rostos
Só um besta pra acreditar

O teu jeito, o teu sorriso
Eu sei que vou querer de novo
E então voltarei a galope
Eu e a lágrima no rosto

E cada torrão pisado
Na noite do meu retorno
Vai encurtar a distancia
Que aumentou o meu desgosto

Pois quando um cabra arriado
Não tira da mente um olhar
É sinal que encontrou
O motivo do seu despertar

terça-feira, 5 de março de 2013

Uma singela homenagem ao meu lugar

 
Guarás eu nunca vi
Anuns não avistei
Mas o que me encanta aqui
Nem mesmo explicar sei

Acordar na alvorada
Ver a garoa pairando
Formando uma cortina nevoada
E os corações acalmando

Caminhar sob os eucaliptos
Em uma manhã preguiçosa
Ouvir um bom dia sincero
Sentir uma brisa saudosa

No fim de uma tarde serena
Os olhos poder repousar
Na beleza de um breve jardim
Flores belas a brotar

Artistas nascem nessa terra
Que tanto nos vem orgulhar
Basta uma noite de lua
Para o som do violão começar

A zabumba de Mourinha tocando
A sanfona de seu Domingos a chorar
A voz de um Revoredo cortando
São tantos, disputa não há

As belezas dessa terra
Não há como cantar
Palavra nenhuma descreve
A magia desse lugar

Espero ter conseguido
Ao menos poder ilustrar
O amor que tenho a essa terra
Que tanto nos vem orgulhar

Aqui nasci e me criei
E aqui pretendo ficar
Pois a casa da gente é aonde
O coração adotar como lar

segunda-feira, 4 de março de 2013

Um diário pro futuro

A gente que escreve tem umas inspirações um tanto quanto diferentes, as vezes. Hoje cheguei da faculdade e num momento pensei em escrever um texto relatando um dia do meu futuro. Como um diário, só que contando um dia que ainda não vivi. Pode botar uns 50 anos na frente aí.


Algum Domingo tranquilo, 50 anos a frente.



Acordei com o aboio do vaqueiro da casa juntando o gado no curral, o cheiro do café coado já invadia o quarto como que me chamando à mesa. A casa não se deixava abalar pela melodia chorosa vinda de fora, eu e a caboclinha éramos os únicos despertos. A cena de toda manhã me fazia sorrir um sorriso sincero, indiferente a tudo que pudesse ter me arreliado no dia anterior. Tomei o meu café na companhia da caboclinha do riso bonito, que me encantou quando moço e continua me encantando a cada olhar. Engraçado viver aquela cena e lembrar quantas vezes ela foi sonhada antes de ser vivida, faz ver que vale a pena não só sonhar, mas correr atrás dos seus sonhos. Um beijo amoroso, é hora da lida. Caboclinha começa a coordenar os trabalhos na cozinha, dá gosto de ver o amor com que ela faz as coisas. Visto a calça surrada e as botas enfadadas, a vacaria já espera atenta para o início da ordenha.
Zé, o vaqueiro, já tem arriado duas reses e me espera sentado no banquinho de madeira terminando de enrolar o próximo cigarro. Enfim começamos. Geralmente a conversa que rege a ordenha é sobre vaquejadas passadas, causos vividos e cavalos montados. A nostalgia é corriqueira. Ao término da ordenha, me banho e sigo para a cozinha, é hora do café-da-manhã.
A casa já funciona a pleno vapor, ao chegar à cozinha é hora de pedir a benção de meu pai e minha mãe, entretidos em uma conversa qualquer meu irmão e minha esposa, e abençoar filhos, netos e sobrinhos. É domingo e estão todos presentes em volta da mesa. A mesa é farta, como mesa de sertanejo tem que ser. A refeição é demorada, ter a família reunida assim é indescritível. Ao fim do café-da-manhã, o neto mais novo me pede para selar Confeito, seu cavalo alazão, para passear com os primos. O sorriso em meu rosto é instantâneo, ver sua descendência perpetuando os hábitos da família não tem preço.
Depois de selar Confeito e dar as instruções para evitar que as crianças se machuquem, sigo para a cocheira. Zé já tem dado ração ao gado e está escovando os cavalos, cantarolando uma toada qualquer. Peço que ele não dê ração aos cavalos, que vou montar, ele já corre satisfeito para prender o gado de correr no mourão. Selo Pecado, meu cavalo de canhota, e Rocinante, o cavalo de esteira do meu pai correr. Enquanto visto as perneiras, meu pai chega animado para montar comigo. Nesse momento a casa inteira começa a se acomodar para ver o treino. Os homens seguem para o mourão, as mulheres sentam-se no alpendre da casa para ver protegidas do sol enquanto brigam com as crianças que querem subir na cerca para assistir.
Passo os cavalos com meu pai. Meu filho sela Princesa, sua égua de direita, e se junta a nós no treino. Meu pai está em forma, não deixa passar um boi. Meu filho é vaqueiro por natureza, nos “coloca no bolso” como diz o ditado. Depois da corrida banhamos os cavalos e aí vamos aproveitar o resto da manhã. Coloco a ração deles e sigo para o alpendre, onde a minha caboclinha está deitada na rede lendo algum clássico, como é de costume fazer toda manhã.
No almoço, repete-se a cena da mesa cheia. As refeições, com a família reunida, tornaram-se a melhor hora do dia. A tarde tiro um cochilo no chão frio da sala, depois levanto e observo meus pais jogarem canastra com as duas noras. Sempre que se encontram aqui, a mesa embaixo do pé de canela vira ponto de jogo. Próximo a eles, as crianças brincam correndo atrás das galinhas.
A tarde caminha devagar, recebo a visita ligeira de uns compadres. É hora de voltar a lida, alimento os bichos e começo a preparar-me para entrar. A noite chega e trás com ela a despedida de meu irmão, cunhada, pais, filhos, netos, nora, genro, sobrinhos... Restamos eu e minha caboclinha, a quem ainda carinhosamente chamo, mesmo depois de tanto tempo juntos, de meu bebê.
Após o jantar, desejo boa noite ao vaqueiro e sua família e sigo para dentro. Lá, o meu amor espera por mim para assistir um filme antes de dormir. Assistimos, ela dorme em meus braços antes do fim. Fim de um dia sereno. Fim de um dia cheio de paz. Fim de mais um dia na minha vida. Vejo a expressão serena no rosto dela, sinto-me o homem mais rico do mundo e durmo com um sorriso no rosto.

Uma breve apresentação

É mais fácil tocar um violão sem cordas do que conseguir dizer quem sou eu. Mas como sempre gostei de desafios, vou encarar essa tarefa de me apresentar.
Me chamo Adalberto, tenho 18 anos e sou fascinado por arte. Toco violão, escrevo e canto (leia-se tento). Sempre gostei de escrever, mas nunca fui de guardar nem de mostrar meus escritos. De uns dias pra cá, a arte foi ficando cada vez mais forte e presente em minha vida, então resolvi criar esse espaço para colocar minha produção. Enfim, sintam-se em casa. Espero que gostem.