segunda-feira, 13 de junho de 2016

Procura-se!

Morning Sun, por Edward Hopper


Saiu de casa pela manhã.

Dizem que dobrou a esquina, comprou um cigarro e um isqueiro.
Foi vista pela última vez em pé no balcão de um bar.
De lá pra cá, a vida se tornou uma procura.
A esperança saiu e não voltou.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Terno de Couro

© 2010 Adri Felden/Argosfoto


No sertão do moxotó
Vaqueiro corre no mato
O seu couro é só maltrato
De jurema e de malícia

Mandacaru, xique-xique
Toda galha enviesada
É uma faca amolada
Pronta pra dar o talho

Mas tal qual os cavaleiros
Dos tempos medievais
O matuto também traz
Armadura em seu corpo

Trajado de grosso couro
Montado em seu alazão
Não tem rês nesse sertão
Que escape do seu laço

Mas tem um tipo de talho
Que o gibão não empata
Nem armadura de prata
Consegue lhe segurar

É o talho do amor
Quando pega um peito aberto
Sempre acerta o veio certo
Não tem como escapar

Quebra a ignorância
Amolece a valentia
Faz da noite logo dia
No tempo de um piscar

Só me falta um guarda peito
De couro fino curtido
Que segure o remoído
Do amor a malratar

terça-feira, 5 de abril de 2016

Madrugada

Barco à Noite, por Élide L. Bartolo. Óleo sobre tela.


O navio da noite
singrando as águas
do mar da solidão.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Ser e Fé


Harpias (1951), por Marcello Grassmann. Xilogravura.


 Tenho viva em minha mente
A saga dos meus pecados
Cada visto carimbado
Nas passagens pro inferno

As vezes, no frio de inverno
Me pego pensando cabreiro
No que fiz por presepeiro
Me arrependo num instante

Mas ainda nesse instante
Lavo a cara e me conserto
Pois sem os erros de certo
Não seria quem eu sou

Um poeta, um cantador
Dibuiador de violão
Na singela condição
De eterno aprendiz

Hoje sou o que eu fiz
E serei o que fizer
Vou seguindo e minha fé
Deposito só em mim

domingo, 10 de março de 2013

Algo sobre a vida

Mar Bravio, por Carol Kossak. Óleo sobre tela.
 
Vi que a vida é um navio
De velas brancas bailando
Perdido em um mar bravio
Entre tormentas vingando
Em meio a dor e ao frio
Medo, suor e calafrio
Uma tenra ilha buscando

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Cabocla e o Vaqueiro

Esta poesia fiz um dia desses. Batizei de "A Cabocla e o Vaqueiro", inspirada em um sorriso. E que sorriso!

Era uma cacimba de ternura, no deserto dos desamores
Caboclinha amorenada, por quatro anjos trançada, das coisa mais bela e pura
De um sorriso abrilhantado, que não se mede nem explica
Só de olhar a gente fica que num atina mais pra nada

Moreninha acaboclada
Carregada de sabores
Eu irei aonde tu fores
Se me deixares prova-la

É só tu dar um riso fácil
Uma bulida no cabelo
Que meu coração bate alto
Sem compasso, sem receio

Mas acaso eu não puder
No teu céu me aventurar
Visto o gibão, junto a bisaca
E vou viver a cavalgar

Num engano bem enganado
De que pudesse esquecer
O cheiro do teu cabelo
Tocado no amanhecer

E os caminhos que eu percorresse
Jurei que fariam pensar
N'outras coisas, novos rostos
Só um besta pra acreditar

O teu jeito, o teu sorriso
Eu sei que vou querer de novo
E então voltarei a galope
Eu e a lágrima no rosto

E cada torrão pisado
Na noite do meu retorno
Vai encurtar a distancia
Que aumentou o meu desgosto

Pois quando um cabra arriado
Não tira da mente um olhar
É sinal que encontrou
O motivo do seu despertar

terça-feira, 5 de março de 2013

Uma singela homenagem ao meu lugar

 
Guarás eu nunca vi
Anuns não avistei
Mas o que me encanta aqui
Nem mesmo explicar sei

Acordar na alvorada
Ver a garoa pairando
Formando uma cortina nevoada
E os corações acalmando

Caminhar sob os eucaliptos
Em uma manhã preguiçosa
Ouvir um bom dia sincero
Sentir uma brisa saudosa

No fim de uma tarde serena
Os olhos poder repousar
Na beleza de um breve jardim
Flores belas a brotar

Artistas nascem nessa terra
Que tanto nos vem orgulhar
Basta uma noite de lua
Para o som do violão começar

A zabumba de Mourinha tocando
A sanfona de seu Domingos a chorar
A voz de um Revoredo cortando
São tantos, disputa não há

As belezas dessa terra
Não há como cantar
Palavra nenhuma descreve
A magia desse lugar

Espero ter conseguido
Ao menos poder ilustrar
O amor que tenho a essa terra
Que tanto nos vem orgulhar

Aqui nasci e me criei
E aqui pretendo ficar
Pois a casa da gente é aonde
O coração adotar como lar